Como é a vida dos neo-rurais portugueses? Porque se decide ir viver para o campo?... Um documentário de Paulo Silva Costa, na RTP1
João Carvalho viveu onze anos em Londres. Teve êxito, mas fartou-se do frenesim citadino e dos horários das 9 às 5.
Optou por uma existência mais simples. Veio viver com a mulher e o filho recém-nascido para uma casa abandonada que descobriu através da internet e que comprou na Benfeita, em Arganil
Está a reconstruir a casa pelas suas próprias mãos. Só usa ferramentas manuais, e o mínimo de cimento ou de combustíveis fósseis.
O casal é vegetariano. Por isso, quando chega a hora de almoço, a mulher, Claire, tem apenas de descer às hortas abandonadas mais próximas para colher a próxima refeição. Também já fizeram vinho e cinquenta litros de azeite.
João desistiu propositadamente de uma vida com torradeiras e aquecimento eléctrico. Podia tê-la sem dificuldade, mas quer "viver com menos", como diz.
Claire e João são um exemplo de um grupo de novos rurais com crescente implantação nalguns partes esquecidas de Portugal, como é o caso da serra da Lousã ou do barrocal algarvio.
Os primeiros destes neo-rurais eram estrangeiros. Vinham de uma Europa Central então ameaçada por Chernobyl, à procura do últimos redutos naturais do Continente. Este movimento da populacão iniciou-se de resto já há décadas na Europa, mas só há pouco tempo ganhou alguma relevância social em Portugal.
Por cá, desde os anos quarenta do século passado que as migrações eram em direcção às cidades. Foi este êxodo rural que transformou Portugal num pais macrocéfalo, com um interior cada vez mais desertificado e a população concentrada no Litoral e sobretudo na área da Grande Lisboa.
"As pessoas abandonaram as áreas rurais e foram para as cidades à procura de trabalhos menos duros fisicamente, com remunerações mais elevadas ou pelo menos mais regulares, e à procura de melhores oportunidades para os filhos" - explica a geógrafa Teresa Alves, professora do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa.
Ir para a cidade era então visto como uma ascensão social, qualquer que fôsse a vida das pessoas lá.
Mas o mundo rural mudou muito nos últimos trinta anos. Os tractores substituiram o trabalho braçal, e os subsídios comunitários tornaram mais fácil viver no campo. Hoje em todo o lado há supermercados, a toda a parte se chega num instante graças às auto-estradas, e a internet tornou possível viver no campo mas trabalhar em funções que outrora só na cidade se podiam exercer.
Valorizaram-se também socialmente modos de vida desprezados num passado recente. E iniciou-se outra migração interna, a mudança para o campo dos ex-citadinos...