Muitos de nós vivemos ainda de recordações, boas ou más, como estamos habituados a classificá-las, revivendo o herói ou a vítima, consoante o caso.
Deixamo-nos ir, ao correr da maré, sem grandes questões interiores, vivendo um dia a seguir ao outro, automaticamente, interrompendo o processo, normalmente quando alguma coisa nos perturba, algum problema nos assola e nos sentimos obrigados a tentar encontrar uma solução.
Outras vezes sonhamos acordados, imaginamos como seria bom se tivéssemos isto ou aquilo, o que mudaríamos na nossa vida, pensando em transformações que aumentam a nossa qualidade de vida, tal como estamos habituados a considerar neste mundo dualista em que vivemos.
Há alturas em que tentamos, quase desesperadamente, controlar os nossos corpos – Mental, Emocional e Físico, mas o Ego, sempre atento, desvia-nos a atenção para detalhes nos quais não queremos pensar, mas nos quais, inevitavelmente, acabamos por cair. Os nossos pensamentos, desejosos de acção cansam-nos, muitas vezes, com a insistência com que nos invadem.
Quando estamos a realizar uma tarefa rotineira, ligamos o “piloto automático” e deixamos que o Ego utilize os corpos a que não estamos atentos. Se não estivermos no Agora, ao fim de um certo tempo a realizar a mesma tarefa (descascar fruta e cortá-la para salada, por exemplo), o nosso corpo Emocional começa a fazer-nos pensar que estamos fartos. Simultaneamente, o nosso corpo Mental é chamado a decidir o que pensar daquela emoção. Na verdade, o nosso corpo Físico esteve sempre a cumprir a mesma tarefa.
Quem já teve um vício do qual tentou livrar-se, sabe bem que frases como “Amanhã começo mesmo”, ou “Sempre fui assim … não vou conseguir” se tornam pensamentos comuns e permanentes, até chegar o dia em que se chega à conclusão de que se pode começar quando se quer, e o pensamento é substituído por “Por que não começo agora?”, por exemplo.
No dia e hora em que se toma a consciência de que o único momento que existe é o Presente, o Agora, revela-se uma realidade superior, divina, transcendente. Começa uma nova faceta da nossa caminhada em direcção à expansão espiritual.
O único momento que existe é o agora. Passado e Futuro não mais são do que apoios do Ego.
É necessário ter presente que não existem limites, que somos divinos. Não existe nada que alguém possa saber que a pessoa ao lado não saiba também. No fundo sabemos que estamos todos ligados mas, na prática, vamo-nos esquecendo.
A nossa identificação com a mente cria uma divisão opaca de conceitos, rótulos, imagens, palavras, juízos e definições, que bloqueia todo o relacionamento verdadeiro. Interpõe-se entre nós próprios, entre nós e o próximo, entre nós e a nossa natureza, entre nós e Deus.
É esta divisória de pensamento que gera a ilusão de afastamento, a ilusão de que existimos nós e um “outro” completamente distinto. Nessa altura esquecemos o facto essencial de que, sob o nível da aparência física e das formas separadas, somos unos com tudo o que existe.
A mente é um instrumento maravilhoso se usado adequadamente. No entanto, quando utilizada de forma errada, torna-se muito destrutiva. Não se trata tanto de usarmos a mente de forma errada; em geral, nem sequer a utilizamos. Ela é que nos utiliza. É esta a doença. Acreditamos que é a nossa mente.
A liberdade começa com a confirmação de que não somos o “pensador”.
No momento em que começamos a observar o pensador, desperta um nível superior de consciência. Nessa altura, começamos a perceber que existe um vasto domínio de inteligência além do pensamento, que este é apenas um ínfimo aspecto dessa inteligência.
Entendemos também que todas as coisas que realmente importam (a beleza, o amor, a criatividade, a alegria, a paz interior) nascem de além da mente.
Texto de Manuela Palmeirim
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